NOMEADO

Blaya

Karla Rodrigues nasce em Fortaleza, no Ceará, em 1987, e vem para Portugal com dois meses. O pai perseguia o sonho de jogar à bola e por isso viveram em Mora, Moura, Quarteira, Castro Verde e Ferreira do Alentejo onde, por fim, os progenitores se estabeleceram e ainda hoje habitam. Familiares e amigos tratam-na por Blaya desde os 14 anos. Com 16 anos muda-se para Sines e do porto alentejano para Lisboa aos 19 anos. Frequenta o Festival Músicas do Mundo, onde assiste a duas das primeiras atuações dos Buraka Som Sistema (BSS) – em Porto Covo e em Sines.

Teve tanta liberdade em criança e jovem que nunca fez nenhuma asneira e foi sempre muito focada no trabalho – cada vez que viajava com os BSS, geralmente de madrugada, chegavam aos locais, faziam o ensaio de som e, naturalmente, nem sempre a cama era o destino seguinte. Eram digressões de muitos dias consecutivos e de parco descanso. Recorda a atuação no Rock in Rio ‘original’ em que tinha hotel, mas preferiu dormir em casa da irmã numa favela carioca; ou a atuação no Festival da Baía das Gatas, em São Vicente, Cabo Verde, onde atuaram, depois de uma noite em branco, às 8h da manhã, com a proteção de uns óculos de sol.

Rebobinando um pouco, Blaya é convidada por Branko, Riot, Conductor e Kalaf a integrar os BSS em 2008 e participa afincadamente na produção dos álbuns “Komba” (2011) e “Buraka” (2014) – revelando preferência pelos temas “Tira o Pé”, “Van Damme” e “Vuvuzela” – e na adaptação de êxitos de discos anteriores em espetáculos um pouco por todo o mundo. A 1 de julho de 2016, com um concerto na Torre de Belém testemunhado por largos milhares de pessoas, os BSS colocam um ponto final na carreira, por tempo indeterminado. De momento dedicam-se a seguir os próprios estilos de cada um, não estando de parte um regresso do coletivo. Antes disso, Blaya colabora com Tom Barman, dos dEUS, no projeto Magnus e em 2013 lança um disco homónimo com seis temas e duas remisturas que apresenta ao vivo no palco Clubbing do festival Nos Alive.

A cantora e bailarina regressa com alguma regularidade ao Brasil com o objetivo primordial de visitar a família, quase toda do outro lado do Atlântico. Aprecia a gastronomia, a água de coco e o clima quente. Gosta de estar de chinelos, de se sentar no meio da rua sem cadeira ou outro objeto, no chão ou no quintal, e afirma não sentir medo da tão falada violência ou, pelo menos, não ter consciência do perigo. E não esquece a promessa indefinida de regressar a ‘Terra de Vera Cruz’ com o propósito de se estabelecer por lá.

Em momentos de descontração no sofá vê pouca televisão, nomeadamente noticiários, mas aprecia séries como a alemã “Dark” e as norte-americanas “Stranger Things”, “Breaking Bad”, “True Blood”, “The Exorcist” e “American Horror Story”. Fã confessa do Spotify, na música acompanha com atenção as carreiras de artistas como Rihanna, Russ, SZA, Fat Freddy’s Drop e Drake. Na literatura assume a preferência por contos eróticos. Quem sabe um dia encontraremos nos escaparates um livro de sua autoria?

Pouco dada a ‘politiquices’, Blaya considera essenciais a dança, a música e o movimento. Segundo a própria, cantar e dançar são, desde sempre, as únicas fontes de rendimento que tem na vida, desde tempos distantes em que ensinava danças numa academia em Sines. Mesmo antes e paralelamente ao curso técnico de informática tinha, nos dias da escola, um grupo de dança. Na altura, Blaya ‘esventrava’ computadores, sabia programar, elaborava jogos e o Photoshop diverti-a.

Nos tempos do mIRC ganha a alcunha de Dama, nome que usou enquanto MC – escrevia e mostrava capacidades de vocalizar hip hop, algo que no Alentejo não tinha muita saída. Assume que as primeiras letras e vocalizações de rap, mesmo antes de começar a dançar, eram muito ‘underground’ – praticamente não existiam mulheres a cantar no tempo dos minifestivais específicos para o ‘pessoal’ do rap, ‘um mundo de homens’. Desde então o mundo mudou.

Aos 30 anos, Blaya acredita que foi a altura certa para a maternidade, não se deixando perturbar ou afetar por todas as coisas que estão a ocorrer no mundo, embora mantenha intervenções arrojadas nas redes sociais, por vezes na companhia da pequenina Aura.

A par deste evento propulsor de felicidade e mudança, com a colaboração de MC Zuka, Kaysha, Laton, Ella Nor ou Virgul, Blaya compôs temas para o novo álbum a editar algures durante o ano de 2018 pela Warner Music Portugal. O disco foi composto, produzido e gravado no estúdio da sua produtora e label RedMojo, em Paço D’Arcos, entre setembro e novembro de 2017, e ao vivo será apresentado com baterista, teclista, guitarrista e bailarinas. As raízes brasileiras estão muito presentes e a artista, no âmbito lusófono, aponta o Brasil como lugar predileto para uma digressão e, quem sabe, a gravação de um álbum ao vivo. Como não podia deixar de ser, o primeiro vídeo dispõe de muitas cores e danças, sendo definido pela própria Blaya como ‘euro favela funk’.

Até ao lançamento definitivo do álbum, referido com uma mescla de múltiplas influências lusófonas da família, dos BSS e das viagens por todo o mundo, serão divulgadas ‘aulas de dança’ no formato original ‘dance video’ que não devem ser confundidos com os mais habituais ‘lyric video’. Blaya anseia pela libertação das mulheres em relação ao próprio corpo através da dança. E também da comunidade LGBTI, com o objetivo vincado de atuar no Arraial Lisboa Pride e no festival Queer.

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